Câncer de próstata um tabu que ainda deve ser quebrado para o bem da saúde dos homens
Em nosso calendário, novembro é pintado de azul, de forma a direcionar os olhares para um grupo com necessidades específicas: o homem. Dentre as diversas nuances que essa temática traz à discussão, as atenções se voltam às questões envolvidas com o câncer de próstata: o rastreamento, o diagnóstico e as ações de prevenção, tratamento e reabilitação do homem que vive com esse diagnóstico e os seus familiares.
A atenção dada ao câncer de próstata nesse mês é de grande importância, pois, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), no último biênio de análise (2018/2019), 68.220 novos casos de câncer de próstata foram diagnosticados e cerca de 15 mil mortes foram registradas por ano. Isso significa que, a cada 38 minutos, um brasileiro morreu em função da doença.
Embora esses números impressionem, debatê-los ainda não é suficiente para o sucesso da campanha, uma vez que a próstata é um órgão de grande relevância para construção social de um ideal de masculinidade e, assim, pode vir acompanhada de tabus e preconceitos. Temos, assim, uma causa complexa que envolve não somente a saúde física, mas, também, questões psíquicas e sociais que devem ser levadas em conta desde a sensibilização até o acompanhamento dos casos já diagnosticados, nos mais diversos momentos do tratamento.
Pensando no câncer de próstata a partir de um olhar mais amplo e empático, gostaríamos, inicialmente, de destacar que o diagnóstico precoce é essencial para o sucesso dos tratamentos que viabilizam a cura. Porém, no cenário social e cultural, muitas vezes, ele se mostra prejudicado pela falta de informação, muito em função dos tabus que existem em torno dele, haja vista que a principal estratégia diagnóstica é o exame de toque.
Diante desse contexto, precisamos ampliar os espaços de diálogo e informações durante todas as fases da atenção a esse homem, buscando transpor as barreiras iniciais que envolvem as questões referentes a sua identidade e sexualidade usualmente associadas a esse órgão. Assim, mostra-se iminente a necessidade de trazer os significados e lugares do homem na sociedade para o centro dessa discussão, visando a desconstrução de ideários que aprisionam a subjetividade masculina e os vulnerabilizam identitariamente no tocante ao autocuidado.
Transcendendo o diagnóstico, é necessário compreender as demais fases envolvidas na atenção ao câncer de próstata. O acompanhamento do homem e de seus familiares deverá ocorrer em todos os investimentos terapêuticos, as mudanças biopsicossociais e os lutos vivenciados desde a confirmação da existência da doença, até a compreensão de um cuidado paliativo precisa ser considerada enquanto possibilidade de qualidade de vida e seu processo de morte. A visão desse homem acerca do significado do seu órgão e sexualidade não deve ser resumida ao aspecto biológico, de modo que seus sofrimentos subjetivos devem ser constantemente considerados, valorizados e elaborados.
Por fim, é essencial ampliar o olhar da discussão do câncer de próstata para além da esfera dos homens cisgênero. Compreender a complexidade social e psíquica requer que nos lembremos da realidade de diversas mulheres transgênero que, com significados, subjetividades e locais sociais diferentes, requerem uma atenção diferenciada nas políticas públicas, possibilitando uma atenção empática às singularidades.
A visão ampliada ao câncer de próstata mostra-se um fator importante a ser debatida na agenda da Política Pública de Atenção à Saúde do homem. Estudos atuais apontam que os pacientes que tiveram acompanhamento psicossocial ao longo do processo terapêutico apresentaram respostas mais positivas, como melhora na qualidade de vida, tolerância aos efeitos adversos do tratamento e alívio de alguns sintomas físicos decorrentes da terapêutica, por exemplo, bem como a sensação de autonomia frente à sua vida e ao seu tratamento.
Vale destacar que, na atualidade, quando discutimos a atenção integral a pacientes oncológicos, defende-se o trabalho de uma equipe multidisciplinar. São os diferentes olhares profissionais, associados ao sujeito com o diagnóstico e sua rede socioafetiva que serão capazes de viabilizar ações a esses sujeitos, promovendo o bem-estar físico, emocional e social do paciente e seus familiares.
Por:
Helen Tatiana dos Santos Lima
Psicóloga e Professora Licenciada em Filosofia da Estácio Brasília, Especialista em Educação Inclusiva e Psicologia Escolar, Mestra e Doutora em Educação.
Hévane Virgínia dos Santos
Enfermeira, licenciada em ciências biológicas, especialista em oncologia. Atualmente, é docente na Secretaria de Educação do Distrito Federal, mestranda em Políticas Públicas em Saúde na Escola FIOCRUZ de Governo e desenvolve pesquisas com as temáticas de educação para a morte, tanatologia e cuidados paliativos.